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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Invenção do Cotidiano - Michel de Certeau - Primeira Parte - UMA CULTURA MUITO ORDINÁRIA - Capitulo 2 – Culturas Populares

Certeau inicia falando da mudança de campo da sua pesquisa, agora ele direciona suas atenções para uma “arte brasileira”. Esse estudo acontece inicialmente no nordeste, aborda em princípio as questões das disparidades sociais, da ausência do poder do Estado de forma efetiva. O autor denuncia a presença do que hoje chamamos de “coronelismo”, a vida com privações tanto de expressão como econômica do povo sertanejo e vê a expressão da cultura religiosa como válvula de escape para o sofrimento. O sertanejo possui uma linguagem e atitudes próprias para fugir da opressão, acreditam  que existem seres que podem ampará-los em sua realidade miserável, um exemplo disso é a crença forte e milagrosa em Frei Damião. Devido a esse estado miserável de vida, não mais reconhecem o poder legitimo do governo estatal. As referências milagrosas agem no imaginário popular e tomam um lugar que deveria ser ocupado pelas ações do governo, principalmente no que se refere a ações ante o flagelo sertanejo. Os relatos milagrosos aparecem na interpretação de Certeau como utópicos, tendo em vista que ele entende essa crença como fuga da opressão dos coronéis locais e do triste cotidiano. Ainda nessa perspectiva, a religião aparece tanto como instrumento de fuga como de obediência, no momento em que estabelece leis e preceitos que as pessoas devem seguir. Orientações advindas de contextos externos e que são introduzidas na realidade do Nordeste via religiosidade. A pesquisa que Certeau realiza busca observar as operações culturais cotidianamente e esse a tipo de metodologia ele dá o nome de “Everyday”. A observação no que concerne a linguagem continua e ele a chama de “Everyday language” e delimita o texto como “enunciação proverbial”. Nesse sentido, acontece a análise histórica também pela linguagem, retomando o que foi trabalho no capítulo anterior, considerando o ato da palavra como um procedimento de natureza enunciativo, com articulações e intervenções nas práticas sociais. A linguagem aparece como elemento incomum, um postulado ou ainda como tipos específicos de operações nas conjunturas históricas, ela caracteriza grupos específicos e aparece em situações específicas. Certeau entende que os métodos de sua pesquisa favorecem os estudos dos elementos estruturais na sociedade, sem os quais ela não poderia existir. Ao estudar a linguagem cotidianamente, Certeau diz que os opressores  usam técnicas de persuasão e convencimento no seu discurso. A produção e a interpretação do discurso são pensados de maneira que possam produzir uma nova ordem cultural, seja ela de esclarecimento, alienação, etc.  O autor defini ainda os instrumentos metodológicos dessa etapa da pesquisa são “modos de usar, as coisas ou as palavras segundo as ocasiões”, diz ainda que essas práticas são realizadas por sujeitos em diferentes movimentos ou operações, assim o discurso é marcado por presenças e ausências, por usos de determinadas estratégias de enunciação, selecionando os elementos de trocas culturais. Quando Certeau se refere aos jogos e artes do dizer, ainda na interpretação linguística, ele diz que a linguagem está submetida à lógica dos jogos de ações relativos aos tipos de circunstâncias. Esses jogos são operações disjuntivas proporcionadas pelas situações que acontecem em cada sociedade, essas ocasiões articulam os jogos de palavras e estas constituem suas regras e sua memória, articulando novos lances, numa constante reorganização. Em cada acontecimento há uma aplicação específica de linguagem e atitudes, a cada situação e a cada uso os repertórios ficam guardado na memória para, assim que necessário, serem usados novamente. Na verdade esse capítulo se trata da investigação histórica a partir das práticas enunciativas sociais, semelhante ao capítulo anterior. Certeau retoma o discurso sobre a religiosidade sertaneja para dizer que as histórias religiosas aparecem como salvadoras, por representarem aquilo que, na vida cotidiana do sertanejo, de fato não existe, o paraíso. É a voz do oprimido perante o sistema que ora vigora. Essas histórias são entendidas como práticas de ação a serem possivelmente reproduzidas numa dimensão imaginária. Sobre as operações culturais Certeau diz que “toda sua cultura se elabora nos termos de relações conflituais ou competitivas entre mais fortes e mais fracos sem que nenhum espaço, nem legendário ou ritual, possa instalar-se na certeza de neutralidade” (p. 86). O autor fala de uma hierarquização social que coloca num lugar distinto a cultura popular e se pergunta como superar essa perspectiva. Em busca de seu lugar social, o popular procura uma inserção e é ai que entra o que Certeau chama de “Prática de dissimulação: a sucata”. Ele faz toda uma narrativa sobre a introdução da sucata na sociedade, como retorno daquilo que a própria sociedade descartou, o uso da sucata seria como uma reintegração do pobre na vida em sociedade. Da linguagem ela vai para a inserção das diversas camadas sociais no sistema capitalista, excludente, egoísta, onde a realidade se mostra sombria. “Aparece ai como excesso (desperdício), contestação (a rejeição ao lucro) ou o delito (atentado contra a propriedade). A sucata aparece como um instrumento de “inclusão”.

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