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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

História: A arte de inventar o passado - Durval Muniz de Albuquerque Júnior (Cap.1 - A hora da estrela: História e Literatura, uma questão de gênero?)

História: A arte de inventar o passado - Durval Muniz de Albuquerque Júnior (Cap.1 - A hora da estrela: História e Literatura, uma questão de gênero?)

A relação entre história e literatura é um tema amplamente discutido no universo dos historiadores, principalmente depois da virada linguística que coloca a linguagem e a narrativa no centro dos debates sobre a construção histórica. Estas então passam a ser entendidas como elementos inerentes a escrita histórica. O destaque passa a ser dado a textos que discutam a escrita da história e a sua diferença em relação ao texto literário, citando como exemplo as obras de Michel de Certeau. Ao diferenciar história e literatura os historiadores relegam a segunda  um lugar de cunho "pejorativo". Albuquerque Júnior (2007) pergunta então o porquê dessa postura e propõe pensar a historia e a literatura juntas.
Albuquerque Júnior (2007) diz que em primeiro lugar a história tem o compromisso com o fidedigno, o real, mas, o que seria esse real? O real não é o concreto, mas aquilo que é mais passível de ser apreendido, não é a verdade, mas o que escapa dela, a vida pura, o cotidiano doloroso, a existência. A partir daí começa-se a discutir três instâncias: o imaginário, o simbólico e o real. O imaginário seria as identificações que dão contorno ao sujeito. O simbólico os significantes do ser produtor de linguagem, os dois de relacionam numa teia como a vida.
O imaginário ou a linha de simulação como denomina Delleuze e Guattari é a instância que afronta o real para lhe dar forma dotando-o de significados, entretanto, na historiografia, tem se situado na linha da territorialização, relegando a outros campos, como o da arte e da literatura, o direito do não objetivado, o não humano, a desrazão, as forças de fora.
A história emerge como discurso ainda no período clássico da Grécia Antiga  pela "voz" dos poetas e dos sofistas como um saber prosáico, num espaço desconfiado, entre verdade e a visão. A história para ganhar credibilidade virou seca, fria e objetiva. Essa racionalização evidencia o medo do homem representar-se fora da razão, de mostrar diversos aspectos da vida. Esse tipo de escritura nos remete a separar o pensamento trágico e sentimental, pois estes são elementos fundantes da literatura e que podiam interferir na concepção de verdade dos fatos, tão defendida durante muito tempo. 
A história seria então a narrativa do homem que sai da barbárie para um processo civilizatóri,o que buscava esclarecer como viviam os homens de outros tempos. No século XVIII, quando no iluminismo, a história é "modelada" como ciência é vista como elemento que transcende o próprio homem. A busca do sentido da vida sai do aspecto sagrado e passa a entender a vida como profana, rodeadas de fatos ocasionados a partir de uma racionalidade apreendida. É então que a literatura absorve a subjetividade como elemento proibído na história. A crescente formalização científica da história faz dela abstrata, materialista e racional estoura questionamentos a partir de 1960, quando as atenções são direcionadas a narrativa histórica. A literatura teria um ar doce de sensibilidade e subjetividade poética, a história escreveria aquilo que está fora da vida íntima, a história se contentava com aquilo que se vê, dado ênfase a construção histórica superficial.