INTRODUÇÃO[1]
TARDIFF (2010) inicia seu livro com indagações sobre a formação dos saberes docentes, mantendo a discussão na interface que relaciona conhecimentos empíricos e conhecimentos práticos e questiona: Como os saberes docentes são adquiridos? Através de instituições reconhecidas ou através da experiência? Quais as relações existentes entre os saberes empíricos, científicos e experienciais? Qual o elo entre os saberes individuais e os coletivos? Onde eles se aproximam e onde eles se distanciam?
Nesse contexto ele diz que o saber é algo que não está dissociado da prática, ele se legitima nela e este saber dialoga com todos os aspectos inerentes a ambientes de aprendizagem, seja ele escolar ou não. Para o autor o saber individual é aquele construído a partir das percepções do indivíduo, já os saberes coletivos se constituem na relação do sujeito com seus semelhantes, quando o sujeito agrega isso a sua vivência.
Para TARDIFF (2010) o conhecimento docente, assim como qualquer outro, é socialmente estabelecido, por exemplo, um tipo de conhecimento ao ser trabalhado em sala de aula só ganha sentido quando o professor possui experiências significativas com ele. Embora o conhecimento faça sentido a partir das experiências sociais que o indivíduo com ele mantém, não é o professor que define o que será estudado, ele apenas dá significado mais intenso a um ou a outro conteúdo. A decisão de seleção de conteúdos cabe a todo um corpo educacional, que gere a educação, principalmente em seu âmbito administrativo, por isso a seleção desse tipo de conhecimento deve ser uma emergência social.
E por essa urgência social do conhecimento, TARDIFF (2011) justifica que o trabalho do professor é social, pois ele trabalha com sujeitos que se manifestam na relaçãi educador/educando, onde se destaca a dinamicidade do saber, baseado no que BORDIEU chama de “arbitrário cultural”. Ainda nessa perspectiva, para o autor o saber a ser ensinado se constituí a partir da construção social e da cultura que o legitima, dos poderes que o permeiam.
É fundamental para a construção do sujeito profissional a socialização o saber-fazer da profissão, pois é nessa troca de experiências que o saber “é incorporado, modificado, adaptado em função dos momentos e das fases da carreira, ao longo de uma história profissional onde o professor aprende a ensinar fazendo o seu trabalho” (TARDIFF, 2011, p. 14) O saber dos professores se constitui a partir de suas vivências, onde na prática, ele adquiri postura docente, qualificações subjetivas que vão lhe moldando enquanto profissional. Essa característica de constituição do saber docente dá a ele caráter essencialmente social, como produção social em si e por si.
Segundo o autor, para o sociologismo o homem é um ser imerso em uma ideologia e não importa o que ele faça tudo gira em torno dela. O saber que o docente produz está numa relação constante de EGO e ALTER, sempre baseado nas relações com outros e nos resultados dessas relações, nos próprios indivíduos e com os quais este se relaciona.
Não existe saber docente sem trabalho docente, esse saber se amplia, modifica e altera na medida em que as experiências também se modificam. Nesse sentido o cotidiano tem papel relevante quando percebemos que é dele que surgem as questões e é para o cotidiano que são pensadas possíveis respostas, ou seja dele emergem as experiências e a ele elas retornam. TARDIFF (2011) fala também da diversidade na constituição do saber docente, para ele o pluralismo do saber docente evidencia sua formação diversa, que inclui formação acadêmica e formação pessoal, denunciando a característica do saber social junto a legitimação de sua epistemologia.
A origem do saber docente é permeada inclusive pelas experiências anteriores a sua formação docente, adentrando pela sua vida estudantil, suas relações familiares, enfim, de maneira geral as instituições formadoras de sua visão de mundo. O professor não usa o saber em si, aquele adquirido puramente nos centros de formação profissional, mas sim através de toda associação que ele faz com seu cotidiano, que formam o saber ensinar, encontrados nos movimentos do lecionar.
TARDIFF (2011) diz que ao aprender a ensinar o sujeito aprende a dominar o saber docente. O autor diz que antes de adentrar no universo docente, durante nossa vida ‘pré-profissional’ temos mais de 15 mil horas de contato com o espaço escolar, em nossa passagem pela escola. Esse tempo tem de ser levando em consideração, pois é principalmente nele que sedimentamos crenças, representações e certezas em relação ao ofício docente. Por isso a ideia de tempo e temporalidade na construção do saber docente também deve ser evidenciada. A casa espaço e período de vida o docente adquiri novos saberes e perspectivas que formam principalmente a identidade do profissional.
Os saberes docentes possuem múltiplas fontes, sejam elas oriundas de sua história de vida, formação profissional, etc., dessa maneira o autor questiona ‘Como unir esses saberes em prol de um bom trabalho educativo? Quais as tensões estabelecidas entre esses saberes e a pratica de sala de aula?’ O saber docente atende em primeiro plano as expectativas do próprio professor, no momento em que, mesmo inconsciente ele seleciona o saber que será privilegiado, de acordo com suas escolhas pessoais, num redesenho de sua prática profissional a todo o momento.
Esse redesenho e essa flexibilidade do trabalho no professor permite uma interatividade com o objeto de trabalho, que passa por uma remodelagem continua. Isso ocorre por que o trabalho com seres humanos permite essa dinâmica, segundo TARDIFF (2011) Tudo o que o autor destaca até aqui são percepções adquiridas em uma pesquisa e a partir disso ele destrincha cada capitulo. Por fim, na introdução ele diz que diante das impressões adquiridas na pesquisa ele entende a necessidade e articulação dos conteúdos acadêmicos e os saberes mobilizados pelos docentes em suas práticas educativas cotidianas.
[1] TARDIFF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Vozes: Petropólis, 2010. [Resumo escrito por Danielle da Silva Ferreira, Pedagoga, Especialista em História de Pernambuco]